Cristo quer abraçar o mundo por meio da sua igreja
por Paulo Teixeira
Escrevo estas linhas no Domingo de Páscoa. O culto foi on-line. Começamos a fazê-lo há um mês. A quarentena nos empurrou para tal. Antes disso, havia apenas um desejo velado. “Quem sabe um dia…” – diziam uns poucos. Mas o dia chegou de supetão e, de uma quinta-feira para um domingo, tivemos de sair da nossa zona de conforto para ser igreja de uma maneira que não nos havia ocorrido. E se nos lançamos nas redes com o objetivo primeiro e justificado de alcançar o rebanho que participava dos cultos presenciais, aos poucos vamos redescobrindo a vocação de ser igreja para fora, para todos, para o mundo.
A audiência dos estudos bíblicos diários e dos cultos dominicais é assídua e crescente. Barreiras geográficas inexistem. Bandeiras denominacionais não constituem um impedimento. Nos bancos virtuais, temos membros da igreja, membros de outras denominações cristãs e pessoas em busca de ouvir a Palavra e de sentir-se parte de uma família de fé. Boa parte dessas pessoas interage com a igreja durante e após as transmissões. Perguntam sobre a Bíblia, pedem orações e aconselhamento e, estando ou não no rol de membros, oferecem apoio à obra missionária e social da igreja nestes dias difíceis. Houvera vivido John Wesley em nossos dias, diria com ainda mais propriedade que sua paróquia é o mundo.
Aprendemos nas Escrituras que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Estou convicto de que Deus tem usado estes dias desafiadores para que, como ensinava Calvino, a igreja invisível se torne visível, e tenhamos uma ideia melhor da amplitude do corpo de Cristo espalhado por toda a terra. Fica mais e mais evidente que as igrejas não são paredes, mas “pedras que vivem” (1Pe 2.5) e irradiam por todos os meios possíveis a vontade e o amor de Deus registrados em sua Palavra eterna (1Pe 1.25). Como na época do apóstolo Pedro, somos todos igreja na dispersão (1Pe 1.1), reunidos por Deus em torno da Palavra e por ela vivificados.
A necessidade vai nos reinventando, fazendo-nos humildes para compreender como ministrar a Palavra de maneira clara, objetiva e relevante a pessoas ávidas por sentir-se abraçadas por Deus em seus lares. E quando este abraço divino é sentido na diáspora dos lares em confinamento, renovam-se e se fortalecem os vínculos de fé, esperança e amor, e a internet se enche de compartilhamentos do amor de Deus, reverberando vida e trazendo à vida quem ainda desconhece o Salvador redivivo.
Parece um contrassenso, mas creio que a minha pequena igreja local – embora de portas ainda fechadas – nunca esteve tão aberta, tão visível e tão acessível às pessoas. Vejo nisso a ação misericordiosa de Deus para que todo o corpo de Cristo se engaje no cumprimento da Grande Comissão (Mt 28.19-20) – razão de ser da igreja cristã. Peço a Deus que aprendamos a lição e, passada a pandemia, irmanados a todos os cristãos na terra, continuemos buscando ser uma igreja mais acolhedora, mais unida e mais viva, quer no modo digital, quer no analógico.
Cristo vive e quer abraçar o mundo por meio da sua igreja.
Paulo Teixeira é secretário de Tradução e Publicaçõesda Sociedade Bíblica do Brasil.
Publicado na Revista Ultimato