COMTER – Planejar para resgatar
Fotos: Comunicação / SBB
No mês de março, 33 líderes de comunidades terapêuticas estiveram reunidos na sede da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Eles participaram do primeiro encontro da Rede COMTER (Comunidades Terapêuticas em Rede) de 2023. Na atividade, além de realizar o planejamento das ações para o ano, discutiram estratégias e organização e puderam compartilhar experiências no processo de tratamento da dependência química e na prevenção ao uso de drogas.
“Estamos retomando e fortalecendo o trabalho após o difícil período da pandemia de Covid-19. Queríamos ouvir as comunidades terapêuticas, conhecer melhor suas demandas e dificuldades para oferecer mais informações, conteúdos de qualidade e direcionamento para o trabalho de prevenção e tratamento. Essa é essência do trabalho desenvolvido pela Rede COMTER”, aponta Emilene Araujo, Gerente de Ação Social da SBB.
Durante o encontro, os participantes conheceram melhor o funcionamento da Política de Assistência Social brasileira e sua execução na área de dependência química, como a SBB concilia seus valores e missão na execução mais eficaz desse trabalho e as metas e agenda de treinamentos e capacitações do Programa Fortalecer a Recuperação do Dependente Químico. Também foi apresentada a nova capa da Bíblia de Estudo Despertar, ferramenta bastante usada nos processos de reabilitação.
Nesse tipo de atividade, trabalhar em rede é sempre mais produtivo. Isso ficou ainda mais claro com a divisão dos presentes em grupos que tinham como tarefa identificar desafios reais do cotidiano das organizações e debater como a COMTER poderia auxiliá-las em relação a eles. A dinâmica também auxiliou a entender as necessidades de cada organização ali representada. Com base nessas situações, será criada uma agenda de encontros temáticos para o desenvolvimento das comunidades terapêuticas.
COMTER: Uma rede com 16 anos de bons frutos
Assessorar para fortalecer. Foi isso que levou a SBB a promover as primeiras reuniões com as comunidades terapêuticas. Mas não demorou muito para se perceber que havia grandes necessidades e que elas precisavam ser sanadas. Uma era a falta de informações qualificadas para o trabalho. Abrir e manter uma instituição para atuar na prevenção e recuperação da dependência exigia o conhecimento e o cumprimento de uma complexa legislação.
Além de conhecer os meandros e cumprir legalmente com seus requisitos, promover a troca de experiências se mostrou eficaz para solucionar problemas. Mais: aqueles momentos facilitavam o estudo da Bíblia. A religiosidade já era importante no processo de recuperação, mas os valores bíblicos se mostram instrumentos de grande valor na prevenção e reabilitação quando o assunto é a droga.
Um grupo precisava ser formado e, em março de 2007, surgia a Rede COMTER. Desde então, um número cada vez maior de comunidades terapêuticas tem se juntado ao movimento, recebendo novos recursos para cumprir a missão com eficiência e eficácia.
A rede nos dá o suporte para transformar vidas
Alexandre Oliveira
Pastor e presidente da comunidade Desafio Jovem de Caieiras (Dejoca)
“Não chegaríamos aqui sem o suporte da COMTER”
Presidente da comunidade Desafio Jovem de Caieiras (Dejoca), o funcionário público Alexandre da Silva Oliveira, 50, compartilhou experiências e distribuiu orientações durante todo o encontro do COMTER. Bagagem para tanto não falta, o Dejoca faz parte da rede desde sua fundação. “Não chegaríamos até aqui sem o suporte, os materiais e as capacitações que a COMTER tem nos proporcionado. As experiências que compartilhamos e os conselhos que damos a cada reunião ajudam muito as demais instituições, que enfrentam as mesmas dificuldades em relação às finanças, à legislação e a manutenção do trabalho”, aponta ele, que também é pastor da Assembleia de Deus Ministério Perus.
Atualmente, a Dejoca trabalha com 26 homens em processo de reabilitação. Eles moram e vivem na casa por períodos que vão de 9 a 11 meses. Lá compartilham tarefas como cuidar da limpeza, da horta e dos animais, realizar atividades ocupacionais e participar dos devocionais e dos estudos bíblicos. A recuperação não se limita apenas esses homens. Também são realizados trabalhos de apoio às suas famílias. À frente do trabalho, Oliveira administra, ensina, prega, ora e aconselha. Mas já esteve do outro lado.
“Estava nas ruas quando fui acolhido. Um senhor, vizinho da minha família e que entregava pães me levou à comunidade terapêutica. Quando me recuperei e me libertei, recebi o convite para trabalhar com ele. Foram tempos de aprendizado. Quando ele faleceu, assumi a direção. Caminhando com a SBB e a COMTER, a cada dia, temos sido transformados para transformar outros”, explica.
Das ruas para apoiar e vencer
Halisson Berti
Presidente da Comunidade Terapêutica Vencer
“Tive um despertamento espiritual e minha vida mudou. Fui totalmente liberto dos vícios”
Por dez anos, o hoje assistente social Halisson, viveu um autêntico e real pesadelo. Tudo começou na adolescência, quando ele conheceu o mundo das drogas. Mas logo vieram as mais pesadas e a dependência. Como tratamento, ele e a família optavam pela internação em clínicas de recuperação. Foram 15 ao todo, sem sucesso. Cada vez mais envolvido com aquela vida, ele passou a morar nas ruas. “Afundei sem parar e perdi tudo, até a família e a dignidade”, conta.
Porém, nessa época, o Centro de Referência em Alcoolismo e Drogadição (CRAD) de Barueri o encaminhou à Comunidade Terapêutica Conquista em Itapecerica da Serra. Lá, conheceu a Bíblia de Estudo Despertar, publicação que toma como base o programa dos Doze Passos, adotado pelos Alcoólicos Anônimos, e os ensinos da Palavra de Deus para promover a recuperação da vida e romper o estado de dependência da pessoa. Pela primeira vez, Berti começou a experimentar a liberdade. “Tive um despertamento espiritual e minha vida mudou. Fui totalmente liberto dos vícios”, explica ele, lembrando que, após o tratamento, passou a trabalhar na própria Conquista e auxiliar os dependentes.
Há seis anos, Berti sentiu que deveria começar um novo trabalho. Em Itapecerica, ele abriu a Comunidade Terapêutica Vencer. Lá, 50 homens, numa unidade, e 22 mulheres, em outra, participam de programas de reabilitação que começam com três a seis meses e podem chegar a um ano.
“Eles são acompanhados por uma equipe multidisciplinar. O propósito é a reinserção e todos os investimentos são feitos nesse propósito. Mas o cuidado não se dá somente com a pessoa. Muitos não sabem, mas quando ela segue por esse caminho, a família adoece junto. Estudos revelam que, de cada cinco familiares, três adoecem. Acompanhamos também a família, dando apoio e ensinando a lidar com a situação quando a pessoa sair”, conta Berti.