A Bíblia: O livro da paz
O ser humano desenvolveu, ao longo da história, diversos conceitos de paz. Um dos conceitos mais comuns de paz é o de ausência de guerras. A ausência de combates pode ocorrer por vários motivos. Um chargista, em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias entre alguns países árabes e Israel, fez um desenho com o título “Pás no deserto”. Falando o que estava escrito, o som era igual a “Paz no deserto”. O desenho, no entanto, mostrava vários túmulos de areia e as pás sobre os túmulos. A paz foi feita enterrando com pás todos os seres humanos mortos na guerra.
A Bíblia é chamada de “livro da paz”. Mas paz, na Bíblia, não significa necessariamente ausência de guerras ou conflitos. Alguém pode ter paz mesmo estando em meio a um conflito. A paz que a Bíblia fala é muito mais ampla e tem um conceito muito mais complexo que o de ausência de guerras. Vamos dar alguns exemplos.
O significado de paz
O Salmo 29, em seu último versículo (11), na tradução Nova Almeida Atualizada, diz assim: “O Senhor dá força ao seu povo, o Senhor abençoa o seu povo com paz.” As traduções de Almeida Revista e Corrigida e Revista e Atualizada, têm esse mesmo texto. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje, no entanto, diz: “O Senhor dá força ao seu povo e o abençoa, dando-lhe tudo o que é bom.” Este texto explicita o que nas outras traduções é traduzido por paz. A palavra hebraica que está no original é “shalom”. Em hebraico, shalom pode ser traduzido simplesmente por paz. Mas o conceito inclui as ideias de tranquilidade, segurança, saúde, prosperidade, bem-estar material e espiritual. Aí entendemos a razão pela qual a Nova Tradução na Linguagem de Hoje substitui a palavra paz pela expressão “tudo o que é bom”. Quando Deus nos dá a paz, ele nos dá tudo o que é bom. Aí temos um primeiro conceito importante para o que significa denominar a Bíblia como o livro da paz. Ela é um livro que nos traz tudo o que é bom.
Shalom também é a palavra tradicionalmente usada como saudação entre o povo de Israel. Muitos cristãos, quando se saúdam, usam a mesma expressão: “A paz!” ou “A paz do Senhor!”. Essa saudação evidentemente não é uma declaração de ausência de conflitos. Ela evoca o sentido ampliado que mencionamos acima. O que as pessoas desejam umas às outras é tudo de bom.
A paz como dom de Deus
A paz tem pelo menos dois aspectos. O primeiro aspecto refere-se à paz com Deus. Nesse sentido, ela é um dom. Deus nos dá a sua paz. Só assim teremos a paz com Deus. Quando Jesus Cristo veio ao mundo, ele veio trazer a paz. Uma paz que não se caracteriza pela ausência de guerras, mas por uma relação especial com Deus. Aliás, a guerra existiu na Bíblia e continuará existindo, testemunhando a rebelião do ser humano em relação a Deus. A rebelião contra Deus provocou a injustiça entre os seres humanos. Não há paz onde não há justiça. E a justiça só se restabelece quando as pessoas se reconciliam com Deus. A reconciliação do ser humano com Deus não é obra humana. Deus mesmo a providencia e oferece para as pessoas como um presente, um dom.
No evangelho de João, capítulo 14, Jesus faz um discurso de despedida aos seus discípulos. Ele estava preparando os discípulos para os acontecimentos que estavam por vir. O auge desses acontecimentos aconteceria na Semana Santa, com a prisão, crucificação e ressurreição de Jesus. Em meio a esse discurso, Jesus menciona a paz que ele lhes daria. A paz é apresentada como um dom. “Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá. Não fiquem aflitos, nem tenham medo” (João 14.27). A paz que Jesus oferece como um presente é diferente da paz que o mundo oferece. A paz que o mundo oferece é a paz como a que vem no final de uma guerra. Um lado elimina o outro. Com isso não há mais conflito. A paz de Deus é diferente. Ela é mais complexa e mais ampla. É por isso que sobre a paz que Deus dá é dito: “E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7). A paz que Deus nos dá é tudo de bom.
Quem tem a paz de Deus se torna pacificador
Agora vamos falar sobre um segundo aspecto do conceito de paz na Bíblia. A pessoa temente a Deus, uma vez que encontra paz com Deus, começa a trabalhar pela paz. São bem-aventurados os pacificadores (Mateus 5.9). A paz da cidade deve ser procurada mesmo durante o exílio (Jeremias 29.7). Os cristãos são mensageiros da paz. O profeta Isaías registra: “Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: ‘O seu Deus reina!’”.
Com tantas indicações, haveria alguma dúvida de que a Bíblia é o livro da paz? Aliás, a paz que a Bíblia ensina não é alcançada com acordos onde cada uma das partes precisa ceder um pouco. Ela não é uma paz onde o mais forte impõe as suas condições sobre o mais fraco. É uma paz com justiça. Sem justiça não há paz.A paz que Deus dá como um presente, transforma as pessoas em agentes da paz, em pacificadores.
Onde os pacificadores atuam?
Os cristãos, como embaixadores da paz, são aqueles que estão em ação nas situações em que a dor e a falta de paz se manifestam. Eles ajudam os famintos, os doentes, os sofredores, sem fazer acepção de pessoas. Ao longo da história, os cristãos já viveram sob os mais diferentes regimes políticos. Mesmo com regimes de governo diversos, os cristãos eram embaixadores da paz. Muitas vezes os cristãos foram mal-entendidos neste seu afã de lutar pela paz. A perseguição sempre acompanhou a fé. A paz que excede o entendimento humano tem o poder de questionar comportamentos e atitudes mostrando aspectos que ocultam luta por poder e dominação.
Jesus, em sua vida, mostrou que era um amante da paz. Ele não procurou bens materiais para si. Ele nem tinha onde reclinar a cabeça. Ele sempre estava pronto para abençoar. As crianças se aproximavam de Jesus. Os famintos encontravam em Jesus alguém que tinha compaixão da sua situação. Jesus curava os doentes. Mas tudo isso não evitou que ele fosse perseguido, preso, condenado e morto. Até na cruz, ele orou pelas pessoas que o condenaram à morte. Ele era, de fato, o príncipe da paz.
Distribuir o Livro da Paz é promover a paz
No trabalho de levar a Bíblia a todos, as Sociedades Bíblicas procuram mostrar que a Bíblia é o livro da paz. O trabalho de uma Sociedade Bíblica não é apenas de uma editora. Muito embora a Bíblia seja um livro que precisa ser traduzido e publicado, o trabalho dos que se envolvem nessa Sociedade da Bíblia é o de um pacificador. Distribuir a Bíblia é promover a paz. Por um lado, a Bíblia é um livro que pode ser adquirido em livrarias. Mas de outro, ela também tem uma missão a fazer em todas as situações em que o sofrimento humano está presente. A Bíblia vai aos hospitais, às prisões, aos lares em crises, aos aflitos, aos desesperados. Embora todas essas pessoas possam procurar uma Bíblia numa livraria, não é assim que, na maioria dos casos, a Bíblia chega até elas. São cristãos, que participam dessa sociedade da Bíblia, os responsáveis por levar o livro da paz a todos os lugares.
Por isso a oração de todos os que distribuem a Bíblia é que ela leve consolo, orientação, perdão, alegria a todos os que necessitam. Que a mensagem da Bíblia chegue a todos. Que o reino do Príncipe da Paz se estenda a todas as pessoas. E que a paz, que excede o humano entendimento, esteja presente em todas as situações. A Bíblia é o Livro da Paz. A Bíblia é o livro que nos traz tudo de bom.
Erní Walter Seibert.