Sociedade Bíblica do Brasil

Os originais da Bíblia

A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego. O Antigo Testamento tem a maior parte escrita em hebraico. Os maiores trechos escritos em aramaico, são os de Esdras 4.8-6.18, Esdras 7.12-26 e Daniel 2.4-7.28. O Novo Testamento foi totalmente escrito em grego.

A formação do Antigo Testamento ou da Bíblia Hebraica

Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo de Israel mantiveram registros de sua história e de seu relacionamento com Deus. Igualmente fizeram o registro das mensagens e revelações que receberam do Deus de Israel. Esses registros tinham grande significado e importância na vida daquele povo e, por isso, foram copiados muitas vezes e passados de geração em geração.

Com o passar do tempo, esses relatos sagrados foram reunidos em três grupos de livros, assim conhecidos, em hebraico:

–  Torah (Lei): reúne os primeiros cinco livros da Bíblia, o assim chamado Pentateuco.

–  Neviim (Profetas): seção que inclui os profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e os profetas posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel, e os Doze Profetas Menores).

–  Ketubim (Escritos): reúne os demais livros, entre os quais Salmos, Provérbios, Jó, Eclesiastes, e também Esdras e Neemias, Daniel, e os livros de Crônicas, que aparecem em última posição no cânone hebraico.

As letras iniciais dessas divisões formam o acrônimo TaNaK, que é o nome que os judeus dão à Bíblia.

A formação do Novo Testamento

Os livros do Novo Testamento foram escritos na segunda metade do primeiro século da era cristã, ou seja, no período que vai de mais ou menos 50 a 100 d. C. Tudo indica que os primeiros livros escritos foram as cartas do apóstolo Paulo e o último o de Apocalipse.

Essas cartas e outros escritos eram recebidos e preservados com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem circulados entre as igrejas (leia Cl 4.16), passando então a ser copiados e difundidos nas igrejas cristãs dos primeiros séculos.

A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos sobre a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos. Também estes foram copiados e distribuídos à medida em que a igreja crescia.

A Edição do Novo Testamento Grego

Os autógrafos ou documentos originais do Novo Testamento não foram preservados. Documentos com porções maiores de texto, que chegaram até nós, datam do segundo e terceiro séculos. Este é um intervalo relativamente breve entre a data de composição dos livros e as cópias mais antigas, especialmente numa comparação com outros escritos daquela época.

O mais antigo fragmento do Novo Testamento grego hoje conhecido é um pedacinho de papiro escrito no início do segundo século d. C. Trata-se do Papiro 52 (ou P52) e nele estão contidas algumas palavras de João 18.31-33, 37-38. Em época recente, foram descobertos muitos outros papiros com texto bíblico, tanto assim que hoje são conhecidos 125 papiros do Novo Testamento (embora a maioria contenha apenas um pequeno trecho do Novo Testamento).

Para preparar uma edição do Novo Testamento Grego, os eruditos dispõem, em tese, de mais de cinco mil manuscritos gregos (muitos deles fragmentários). Além disso, levam em conta também o testemunho de traduções antigas (como a latina, siríaca, copta, entre outras) e a transcrição de textos do Novo Testamento nos escritos de teólogos da igreja antiga, particularmente aqueles que escreveram em grego. Disso resulta uma edição do Novo Testamento grego que é chamada de eclética, ou seja, um texto que resulta do estudo e da combinação de um grande número de manuscritos.

Na prática isto significa que o texto reproduzido em O Novo Testamento Grego (diferentemente do que ocorre na Bíblia Hebraica) não se encontra em um único manuscrito, pois resulta da comparação e combinação (em tese) do que se encontra em todos os manuscritos que chegaram até nós.

A edição do texto grego do Novo Testamento mais utilizada por tradutores em todo o mundo é O Novo Testamento Grego, uma publicação das Sociedades Bíblicas Unidas que está em sua quarta edição revisada. Uma edição em “roupagem” portuguesa foi impressa no Brasil, em 2009. Juntamente com a Biblia Hebraica Stuttgartensia, esta é a melhor edição dos textos originais de que se dispõe hoje em dia.

A preservação do texto bíblico

É bem verdade que os documentos originais da Bíblia, chamados de autógrafos, não foram preservados. Tudo que se tem são cópias, antigas, com certeza, mas não os autógrafos. No entanto, numa comparação com outros textos do Mundo Antigo, a Bíblia é um livro muito bem preservado, em grande número de cópias antigas. Isto se aplica de modo especial ao Novo Testamento, mas vale também para o Antigo Testamento, especialmente a partir da descoberta dos rolos do mar Morto.

O Uso da locução “versões antigas”, no caso da tradução do Antigo Testamento

Como, no caso do texto do Antigo Testamento, não se dispõe de um número expressivo de manuscritos mais antigos em hebraico, os eruditos e tradutores levam em conta o testemunho das “versões antigas”, principalmente o Targum aramaico, a tradução grega da Septuaginta e a Vulgata latina. Estas traduções foram feitas a partir de um original hebraico que é muito mais antigo do que o Códice de Leningrado (1008 d.C.), reproduzido na Biblia Hebraica Stuttgartensia. Em muitos momentos, como Gn 4.8, por exemplo, a tradução se baseia no testemunho dessas versões antigas.

O uso da expressão “melhores e mais antigos manuscritos”, no caso do Novo Testamento

Em muitas edições da Bíblia (principalmente Bíblias de Estudo), afirma-se que a tradução do texto do Novo Testamento segue os “melhores e mais antigos manuscritos”. Esta expressão só se tornou possível a partir da descoberta de muitos manuscritos antigos, nos últimos 200 anos. Entre esses manuscritos estão o Códice Sinaítico, o Códice Vaticano, o Códice Alexandrino, o Códice Ephraemi Rescriptus, bem como vários papiros. Um manuscrito mais antigo não é necessariamente melhor do que um manuscrito copiado em época mais recente, mas até prova em contrário um manuscrito mais antigo, que não resultou de um longo processo de sucessivas cópias, tem maiores chances de conter menos erros de cópia.

Por isso, as edições do Novo Testamento Grego chamadas de “críticas” têm a preferência das Sociedades Bíblicas, em detrimento do assim chamado “texto recebido”, porque refletem o texto tal qual se encontra nos “melhores e mais antigos manuscritos”.

O “texto recebido” foi elaborado por Erasmo de Roterdã, no século XVI, a partir de um punhado de manuscritos, copiados no final da Idade Média. No entanto, em termos de conteúdo, não há diferença substancial entre o “texto crítico” e o “texto recebido”, pois, em geral, aquilo que o “texto recebido” tem a mais reflete ou ecoa o que se encontra em outro lugar na Bíblia.

Sociedade Bíblica do Brasilv.4.18.12
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